"Este projeto foi contemplado pela Fundação Nacional de Artes - FUNARTE
no edital Bolsa Funarte de Residências em Artes Cênicas 2010"

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A busca da cumplicidade e do prazer

Jogo de hoje que quero destacar, é o Mestre Manda (brincadeira de crianças) mas com tortura, hohoho!!
O mestre mandou andar pelo espaço, o mestre mandou parar e assim por diante. Se uma ordem é dada sem que se diga antes "O mestre mandou" não devemos segui-la, quem segue cometeu um erro e deve ser torutrado por Monsier Gaulier.
Prá se salvar você pode pedir um beijo ou nada, se ele (o Monsier) aceitar vc pode tentar com algum de seus colegas "May I Kiss you?" e se a pessoa aceitar, Ok vc beija e está livre, se ela disser não, então você será torturado. É uma delícia ver o Gaulier se divertindo ao torturar os alunos...
A cumplicidade vai se instalando entre os colegas e você pode descobrir o prazer de dedurar alguém, de se entregar pro carrasco, de pedir um ou mais beijos e de negar os beijos prá ver alguém ser torturado.
Ah! Sem contar no prazer de SER torturado!!!
Peço calma às pessoas de bem que não costumam pagar prá fazer esse tipo de workshops por aí, pois a tal tortura é uma brincadeira muito divertida e ver alguém ser torutrado é tão pesado quanto fazer "Guerra de Travesseiro".
Em todos os outros exercícios do dia, as palavras de ordem continuam sendo CUMPLICIDADE e DIVERSÃO. E nada como um bom jogo ou brincadeira prá experimentar essa sensação poderosa de prazer.
Numa outra proposta de jogo, as duplas eram adversárias. Imagine duas cadeiras, uma em cada canto da sala, um círculo no meio e dentro desse círculo uma bola. quando o Monsier toca seu tambor, você tem que pegar a bola e levar até sua cadeira (ganha 1 ponto) ou até a cadeira do outro (ganha 2 pontos), mas se vc pegou a bola o adversário pode tocar em vc e ganha o seu ponto.A dupla se prepara, olho no olho, ele toca seu tambor e começa o jogo.
Prá mim é um pouco difícil acessar a cumplicidade jogando como adversária e tendo um objetivo tão difícil a alcançar. É certo que sempre ouvimos que ganhar nesse caso não é o mais importante, mas também não podemos deixar o objetivo do jogo de lado, mas hoje conversando com Rodrigo, meu colega,
chegamos a possibilidade de pensar em uma outra qualidade de cumplicidade. Essa menos amorosa, mais conflitiva que leva o adversário a superar seus limites, tentando alcançar o tal objetivo. Somos adversários mas estamos os dois no mesmo barco. Bem como quando Gaulier fala do prazer dos atores que atuam juntos representando personagens que vão matar um ao outro, o prazer de estar junto criando aquele universo.
Por hoje é só pessoal!!!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Primeiro encontro com Gaulier

Hoje comecei os dois primeiros módulos: Le Jeu (das 14hs às 17hs) e Clown (das 17hs às 20hs). Jornada intensiva e cansativa por conta da língua, na escola eles ensinam em inglês e na rua tenho que falar francês.
Juntando com todas as novas informações de trajetos, pessoas, ensinamentos e paisagens...Tem horas que a cabeça fica um pouco louca...
Destacarei somente os pontos mais interessantes das duas aulas, prá que vcs não desistam de me acompanhar.

No Le Jeu (o jogo) destaco um exercício muito simples que consiste em segurar uma bola de tênis na testa, em duplas, e se deslocar pelo espaço, sem colcoar a mão na bola e sem deixá-la cair. Um guia o outro segue e depois troca. Trataremos aqui de uma questão basal no trabalho do Gaulier e que utilizei em meu projeto como uma das diretrizes prá guiar minha pesquisa, a tal da cumplicidade!!!!
Como o Monsier (ou o professor) pode instaurar em sala, e fomentar entre os alunos a cumplicidade? E como o performer pode instaurar a cumplicidade com o público?


Quando a cumplicidade realmente acontece é interessante acompanhar o que se passa entre a dupla como espectador, e como ator você vai ganhando uma confiança tão grande que pode inventar coisas em conjunto na cena. Saber guiar e se deixar ser guiado, parece até que nem conseguimos perceber direito quem guia e quem está sendo guiado. Você sente tanta confiança que consegue se arriscar em conjunto com o outro, relaxar e brincar.
Brincar, um outro ponto que voltaremos a falar mais vezes é a expressão "To have Fun"...Palavras de ordem!
Ok!!! Estamos sempre à procura disso no jogo e, quando encontramos, temos que continuar trabalhando prá não perder...Hehehe!

Para a aula de clown:
Uma maleta com várias máscaras de plástico dessas com narizes grandes e bigodes. Você coloca umas dessas máscaras e vai pro palco se apresentar pros seus colegas, sou nome, o que você gosta de fazer, etc...
Segundo Gaulier, o clown tem que fazer rir...Com as sua tolice, sua fragilidade e humanidade. 

Quando estiver com um problema, não se livrar do problema e sim aproveitá-lo até o final. Se a platéia tá gostando de algo, continua...Não desiste no meio...Principalmente se a platéia está gostando, te amando!

Bom, já deu prá entender que é um grupo bem diverso. A turma é formada por pessoas da Inglaterra, Espanha, Australia, Brasil, Austria, Itália, EUA, Portugal, Canadá, Suécia, China...Diferentes culturas, mas não como as daqui do meu bairro: Argelinos, Marroquinos, Africanos, Indianos. De qualquer forma, o corpo e o comportamento de cada aluno no curso estão expostos e é esse o material de trabalho no nosso caso, então, já podemos notar algumas diferenças culturais que aparecem nos exercícios.

Bon, Voilá! Esse é só o primeiro dia...

sábado, 16 de outubro de 2010

Anne Teresa, Jerôme Bel e Ictus - Théatre de la Ville

Arnold Shoenberg escreveu uma transcrição do último movimento de uma peça de Gustav Mahler "Das Lied von der Erde" e os coreógrafos fazem agora uma 3ª interpretação. O último movimento é "Der Abshied" traduzido pro Francês como a partida. A bailarina deixa-nos ouvir a peça prá começar o espetáculo e depois conta como resolveu dançar uma peça que fala da morte, mais precisamente do momento em que aceitamos a morte. Belos momentos foram divididos com uma platéia atenta, a parte de comentários sobre o espetáculo, veio à tona um assunto que me ronda no momento...
As partidas, as mortes, as despedidas...Quantas mortes e quantas despedidas pode um ser humano viver numa só vida? E a escolha do tema da peça me tocou tanto, por ser exatamente o momento da aceitação da morte...estar ciente de sua presença e deixar-se encontrar por ela, ir ou ficar com ela...

E será que um dia conseguimos realmente saber lidar com esse(s) momentos?

Acho esse um grandioso tema, prá criação de uma peça e da própria vida!!!

Agora chega (como diz a Clarice Lispector) fui fundo demais e preciso parar prá descansar...

Arrivée...

Primeira semana: reconhecimento de espaço! Vejo de tudo um pouco, pessoas e produtos de todas as nacionalidades convivem nos mesmos espaços, mas parece aos meus olhos de estrangeira recém chegada que a miscigenação não acontece...


Sacré-Coeur Sagrado Coração meu...Fora: a agitação, o barulho, diferentes pessoas se cruzam em diferentes ritmos. Dentro: a grandiosidade, o silêncio luminoso dos vitrais coloridos.Nesse momento de reconhecimento é necessário abrir espaço e silenciar...Prá captar com o coração aberto a experiência que começa.

 Da Pont Neuf - um "promenade" pelo Sena e uma paradinha como os "Amantes da Pont Neuf", a agitação e a tranquilidade dividem os espaços da cidade toda. Depois fomos até o Louvre e me perguntei quantas visitas seriam necessárias prá absorver pelo menos uma parte de tudo aquilo. Bom, é claro que isso não será um diário de visitas a pontos turísticos, e logo entraremos mais nos aspectos específicos da pesquisa...Mas percebi que a pesquisa já começou...Então resolvi dividir esses territórios superficialmente visitados prá dar uma idéia do percurso. Beijos e Bon Soir!!!