Voilá mes amis!!! Última semana das aulas de clown. De terça a sexta apresentaremos o "show" todas as noites. Antes do show ainda temos aulas normalmente e podemos continuar mostrando novos números na esperança de experimenta-los no show. As mudanças acontecem todos os dias, alguns números podem entrar e outros podem ser vetados se não funcionarem com o público.
Desde que começamos a mostrar os números, entramos num outro grau de aprofundamento do trabalho, pois saímos dos maravilhosos momentos de improviso e flerte com a platéia, na descoberta do nosso ridículo, e passamos ao momento de testar idéias pré-concebidas e ensaiadas.
Como manter o frescor do namoro, depois de alguns anos de casamento? Bom, é uma arte!!! E quem consegue fazê-lo sabe que é necessário desenvolver estratégias, lapidar técnicas e desenvolver uma escuta do outro fortíssima (a tal cumplicidade)...
Os direcionamentos que Philippe dá aos alunos são muito precisos, e nesse momento, começas a entender coisas que ele dizia no começo do workshop (através de suas histórias absurdas e seus personagens).
O que poderia funcionar? Porque não funciona? Cada caso é um caso, pois depende de como estás no palco e não exatamente do que fazes. Ele faz perguntas, ou só manda você sair de cena, comenta algo, ou te direciona de acordo com alguma imagem que lhe passou pela cabeça ao ver uma proposta...
Nesse período se estabele fortemente na sala de aula, o jogo do Monsier Loyal que vai contratar pessoas pro seu show, Philippe sempre fala prá fazermos nossa apresentação prá Rainha da Suécia que está lá assisitindo e o tempo todo temos que verificar se ela está gostando e se ainda continua ali.
A excitação, o medo, a fadiga, se estabelecem. Pessoas trabalhando duro pelas salas e corredores da escola, pessoas nervosas porque ainda não conseguiram entrar no show...É um jogo engraçado, e muitas vezes cruel pois te coloca frente a frente com teus limites, tuas certezas e dúvidas, teus mecanismos de proteção, tuas possibilidades de entender e jogar o jogo...
Há que descobrir uma outra lógica, de criar, de apresentar-se aos outros, de estar em relação com as coisas, algo bem personal.
Há um tempo, eu pensava que a genialidade do clown estava em sua loucura, nessa outra lógica que se apresenta quando estás em jogo com o nariz vermelho. No entanto, atualmente vejo que ela se encontra mais na possibilidade de ver exposto algo essencialmente humano que é o desejo de ser amado, a esperança de conseguir fazer o outro rir para te amar. E aí já se encontra o ridículo, pois somos capazes de fazer coisas inimagináveis só para obter isso: amor.
Bom, claro que não posso dizer só isso...Afinal, não é essa a busca de todo o ser humano?
Ui...Love is in the air!!! Sim, às vezes trabalhamos tão duro e temos tão poucos resultados satisfatórios, que parece que vamos desistir, daí, no meio da exaustão, do limbo, da lama...Surge algo novo, lindo, ridículo, risível e que te põe em contato direto com as pessoas e com você mesmo!!!
Aí é só prazer!!! Vontade de amar e ser amado!!! Gratidão por estar vivo!!!!
OK!!! Agora vou me recolher prá não começar a escrever um texto de auto-ajuda!!!
Hehehe!!! Boa Noite, e aproveitem os bons sonhos!
Esse é um espaço de circulação das informações, questionamentos e vivências pertencentes ao projeto de pesquisa em artes cênicas realizado na escola do Philippe Gaulier em Paris. De 10/2010 a 05/2011 farei os módulos "Le Jeu", "Clown" e "Bouffon" e em Maio, na volta ao Brasil, dividirei na prática alguns dos ensinamentos por mim absorvidos. Sejam Bem vindos!!!
"Este projeto foi contemplado pela Fundação Nacional de Artes - FUNARTE
no edital Bolsa Funarte de Residências em Artes Cênicas 2010"
no edital Bolsa Funarte de Residências em Artes Cênicas 2010"
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
"Beautiful things begin in the land of the bad" - "De belles choses débutent au pays des mauvais"
Esse é o nome de um dos capítulos do livro "The Tormentor - Le Jeu light theatre" onde Gaulier fala sobre todos os estilos ensinados na escola. De belles choses...fala sobre o clown.
Agora que estamos nos aproximando do fim do workshop, consigo visualizar melhor o todo para comparti-lo com vocês.
Em termos estruturais o workshop acontece assim: todos os dias, depois das aulas de movimento, onde trabalhamos alongamento, exercícios musculares e de acrobacia, vestimos nosso figurino e vamos ao encontro do Monsier Loyal (Gaulier nos espera com seu humor feroz)...
Quase sempre prá esquentar, fazemos o jogo do "Chefe manda" e trocamos beijos e torturas...
Nos primeiros 4 dias do workshop, Gaulier propõe exercícios com máscaras de plásticos dessas com narizes grandes, diferentes bigodes, algumas com óculos, outras sem...
Com essas ridículas máscaras, que qualquer pessoa pode comprar em lojas de festas e fantasias, ele pede prá imitarmos uma máquina de lavar russa, cantarmos uma música, fazermos caretas, ou simplismente estarmos de frente prá platéia sentindo como é estar com essa máscara e fazer algo prá que o público ria.
No quinto dia ele trouxe os narizes vermelhos e, com propostas muito simples, como "dar um susto na platéia" Buuu!!! Ele olhava prá cada um e dava um caracter ou uma proposta de figurino. Por exemplo: jogador de rugbi, órfã, professora de piano, Obelix, Hare Krishna, servente do trem, chapeuzinho vermelho,
a Vóvozinha, o Lobo, e para mim - Madame King Kong.
Seu tema de casa é compôr seu figurinno o melhor que vc pode, esse é um momento importante, pois a relação com o figurino irá ajudar na sensação de ridículo, irá aflorar alguma característica em você, será sua segunda pele, seu momento de preparação antes de entrar em cena (ou em aula) seu pequeno ritual de entrada nesse outro mundo onde belas coisas surgem da terra dos maus, dos que erram, dos que não estão em seu lugar de conforto.
Na segunda-feira da outra semana iniciamos as provas de aprovação dos figurinos, e quanto mais você compõe, com sapatos, chapéu, detalhes, mala ou bolsa...Enfim, mais você vai se completando também.
Seguem-se, então, as popostas de improviso para a descoberta do clown.
A didática de Philippe parece adidática, pois a explicação dos exercícios se dá muitas vezes através de contos, histórias, brincadeiras com seus personagens inventados, eu costumava ficar completamente confusa...Ia entendendo conforme via os outros fazerem ou fazendo e jogando ali mesmo com a confusão que tinha.
Para a maioria da turma que já está há um ano na escola, vejo que já estão familiarizados com essa forma de ensinar e simplesmente jogam com Philippe.
Confesso que fiquei bastante tempo sentindo dentro de um nevoeiro "Entre Tinieblas" como o filme de Almodóvar...Não conseguia ver nada claramente, e o que achava que sabia não conseguia utilizar na frente desta exigente platéia comandada por Philippe.
É um trabalho penoso prá todos, mesmo os que já conseguiam se encontrar mais desde o princípio, quando começavam a achar que já tinham encontrado alguma coisa para repetir e fazer rir, não funcionava, virava mecânico, perdia o frescor, a vida...
Na concepção de Philippe, o Palhaço entra em cena prá fazer rir, não tem que ser poético, nem dar nenhum recado, nem ser filosófico, nem ter opinião política...Tudo que ele faz é mostrar sua humanidade,com suas ridículas e inusitadas idéias prá fazer a paltéia rir, colocar-se de frente com o flop e deixar com que os outros riem dessa situação.
Podem ficar tranquilos que mais adiante discorrerei sobre "os conceitos" utilizados na escola como flop, por exemplo.
Bom, seguimos na sequencia do workshop.
No mesmo dia do final de Le Jeu (12 de nov) a turma apresentou-se para o pessoal do primeiro ano e a proposta de Gaulier foi de que imitássemos um clown que nos chamava atenção, então teríamos que prestar bem atenção durante a semana, escolher alguém, vestir o figurino e maquiagem desse clown e imitá-lo frente ao público.
Foi muito divertido, porque a maioria dos alunos se divertia muito imitando e ressaltando as características ridículas do outro...Sempre é divertido tirar sarro dos outros, sendo assim Phillipe, na outra semana aconselhou que, a partir de agora nos divertíssimos da mesma maneira tirando sarro de nós mesmos, do nosso ridículo.
Mas aí entra uma questão muito importante que é, conseguir ter a visão clara de onde se encontra o nosso ridículo, delineando e aproveitando detalhes, repetindo ações que "funcionaram" com o público, com o mesmo frescor e prazer que fizemos ao zombar carinhosamente do colega.
É uma busca no meio da neblina e no meio da lama, onde o espelho de nós mesmos tá no olho do outro (platéia) e o termômetro na risada. O caminho vai sendo trilhado como num jogo de quente e frio. Escutar a si e escutar a platéia é o exercício mais delicado e minucioso.
Atualmente estamos trabalhando em duplas para a montagem de números que vamos apresentar na últimas semana de aula, entre os dias 12 e 17 de dezembro. ui ui ui ui.....
Agora que estamos nos aproximando do fim do workshop, consigo visualizar melhor o todo para comparti-lo com vocês.
Em termos estruturais o workshop acontece assim: todos os dias, depois das aulas de movimento, onde trabalhamos alongamento, exercícios musculares e de acrobacia, vestimos nosso figurino e vamos ao encontro do Monsier Loyal (Gaulier nos espera com seu humor feroz)...
Quase sempre prá esquentar, fazemos o jogo do "Chefe manda" e trocamos beijos e torturas...
Nos primeiros 4 dias do workshop, Gaulier propõe exercícios com máscaras de plásticos dessas com narizes grandes, diferentes bigodes, algumas com óculos, outras sem...
Com essas ridículas máscaras, que qualquer pessoa pode comprar em lojas de festas e fantasias, ele pede prá imitarmos uma máquina de lavar russa, cantarmos uma música, fazermos caretas, ou simplismente estarmos de frente prá platéia sentindo como é estar com essa máscara e fazer algo prá que o público ria.
No quinto dia ele trouxe os narizes vermelhos e, com propostas muito simples, como "dar um susto na platéia" Buuu!!! Ele olhava prá cada um e dava um caracter ou uma proposta de figurino. Por exemplo: jogador de rugbi, órfã, professora de piano, Obelix, Hare Krishna, servente do trem, chapeuzinho vermelho,
a Vóvozinha, o Lobo, e para mim - Madame King Kong.
Seu tema de casa é compôr seu figurinno o melhor que vc pode, esse é um momento importante, pois a relação com o figurino irá ajudar na sensação de ridículo, irá aflorar alguma característica em você, será sua segunda pele, seu momento de preparação antes de entrar em cena (ou em aula) seu pequeno ritual de entrada nesse outro mundo onde belas coisas surgem da terra dos maus, dos que erram, dos que não estão em seu lugar de conforto.
Na segunda-feira da outra semana iniciamos as provas de aprovação dos figurinos, e quanto mais você compõe, com sapatos, chapéu, detalhes, mala ou bolsa...Enfim, mais você vai se completando também.
Seguem-se, então, as popostas de improviso para a descoberta do clown.
A didática de Philippe parece adidática, pois a explicação dos exercícios se dá muitas vezes através de contos, histórias, brincadeiras com seus personagens inventados, eu costumava ficar completamente confusa...Ia entendendo conforme via os outros fazerem ou fazendo e jogando ali mesmo com a confusão que tinha.
Para a maioria da turma que já está há um ano na escola, vejo que já estão familiarizados com essa forma de ensinar e simplesmente jogam com Philippe.
Confesso que fiquei bastante tempo sentindo dentro de um nevoeiro "Entre Tinieblas" como o filme de Almodóvar...Não conseguia ver nada claramente, e o que achava que sabia não conseguia utilizar na frente desta exigente platéia comandada por Philippe.
É um trabalho penoso prá todos, mesmo os que já conseguiam se encontrar mais desde o princípio, quando começavam a achar que já tinham encontrado alguma coisa para repetir e fazer rir, não funcionava, virava mecânico, perdia o frescor, a vida...
Na concepção de Philippe, o Palhaço entra em cena prá fazer rir, não tem que ser poético, nem dar nenhum recado, nem ser filosófico, nem ter opinião política...Tudo que ele faz é mostrar sua humanidade,com suas ridículas e inusitadas idéias prá fazer a paltéia rir, colocar-se de frente com o flop e deixar com que os outros riem dessa situação.
Podem ficar tranquilos que mais adiante discorrerei sobre "os conceitos" utilizados na escola como flop, por exemplo.
Bom, seguimos na sequencia do workshop.
No mesmo dia do final de Le Jeu (12 de nov) a turma apresentou-se para o pessoal do primeiro ano e a proposta de Gaulier foi de que imitássemos um clown que nos chamava atenção, então teríamos que prestar bem atenção durante a semana, escolher alguém, vestir o figurino e maquiagem desse clown e imitá-lo frente ao público.
Foi muito divertido, porque a maioria dos alunos se divertia muito imitando e ressaltando as características ridículas do outro...Sempre é divertido tirar sarro dos outros, sendo assim Phillipe, na outra semana aconselhou que, a partir de agora nos divertíssimos da mesma maneira tirando sarro de nós mesmos, do nosso ridículo.
Mas aí entra uma questão muito importante que é, conseguir ter a visão clara de onde se encontra o nosso ridículo, delineando e aproveitando detalhes, repetindo ações que "funcionaram" com o público, com o mesmo frescor e prazer que fizemos ao zombar carinhosamente do colega.
É uma busca no meio da neblina e no meio da lama, onde o espelho de nós mesmos tá no olho do outro (platéia) e o termômetro na risada. O caminho vai sendo trilhado como num jogo de quente e frio. Escutar a si e escutar a platéia é o exercício mais delicado e minucioso.
Atualmente estamos trabalhando em duplas para a montagem de números que vamos apresentar na últimas semana de aula, entre os dias 12 e 17 de dezembro. ui ui ui ui.....
Estou trabalhando com Martina (italiana arretada) e a proposta para a criação do número, prá todoas as duplas é de que os clown tem que apresentar a peça "As Três Irmãs".
Como os clown não tem referências de desta peça de Russa, irão inventar muitas formas de fingir que sabem muito bem o que estão fazendo e apresentarão suas próprias versões.
Entramos na etapa de ensaiar propostas e repeti-las em frente ao público e principalmente, apresenta-las ao Monsier Loyal para tentar estrelar no espetáculo. Pois se você não tiver um número bom, não poderá se apresentar.
As coisas foram se clareando prá mim, principalmente porque fui entendendo melhor o jogo de Philippe e consigo agora jogar com o Monsier. Os direcionamentos que ele dá para os números são muito precisos e clareiam as possibilidades de onde cada um pode chegar.
A tentativa de colocar em prática as "idéias maravilhosas" que temos nos ensaios, de repetir o que deu certo no dia anterior, de formatar ações e ao mesmo tempo estar aberta para escutar a pulsação da cena, o tempo das coisas...Uf, uf, ufffff!
E principalmente, de não acreditar mais numa idéia, num acessório, num boneco, mais do que em nós mesmos...Philippe sempre fala : "Eu quero ver você, quero ver o clown, não quero ver seus acessórios, seu boneco, suas grandes idéias...Nada é mais importante do que você e sua relação com o público! Tudo é apenas uma estratégia para estar com o público, faze-lo rir e ser amado".
E todos temos a tendência de nos escondermos atrás de tantas coisas, é dificílimo encontrar a simplicidade, desenvover somente uma idéia, ou uma imagem, simplesmente estar...
Como os bichos e as crianças, que só estão...Estão para ser amados, para brincar, para aproveitar todas as pequenas coisinhas boas da vida!
"This nose, the smallest mask in the world, has another virtue. It reveals the students face, their body, their dreams, their foolishness and their shyness (or arrogance) when they reached the age of seven." Pg. 293 - The Tormentor - Gaulier
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