"Este projeto foi contemplado pela Fundação Nacional de Artes - FUNARTE
no edital Bolsa Funarte de Residências em Artes Cênicas 2010"

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Les Bouffons

Em 10 de Janeiro de 2011 começamos o ano com o workshop de Bouffon.
Começamos a aula com uma história contada por Philippe - em sua particular maneira de contar histórias misturando dados reais e fictícios sem sabermos o que é um ou outro – mas sempre com muita diversão.
De forma bem resumida, a história do aparecimento da figura do bufão é assim: Na idade Média bandos de excluídos eram relegados a viver em banhados e florestas escondidos da sociedade, na França eram chamados de Parias. E quem se enquadraria na qualidade de paria?
Pessoas que nasciam com algum tipo de deficiência física ou mental, algum tipo de doença ou loucura, ou que não aceitavam as regras impostas pela igreja e eram queimados por cometer heresia, enfim, todos aqueles que nasciam com alguma imperfeição e, portanto, não poderiam ser chamados de filhos de Deus.
Esses filhos do Diabo deviam ser afastados do convívio social para o bem geral, no entanto, uma vez ao ano, eles eram liberados de sair às ruas e zombar do Rei, da igreja e das regras sociais. Hoje em dia podemos incluir nesse grupo, moradores de rua, prostitutas, gays, judeus, africanos, imigrantes em geral, doentes de Aids, enfim, todos aqueles que aparentemente fazem parte da sociedade, mas que na verdade vivem a parte, em seus guetos.
Um bufão, figura maltratada, marginalizada, sempre tem o que dizer aos “filhos de Deus”, no entanto, é perspicaz em criar estratégias prá conseguir colocar o “dedo na ferida” e mostrar as mazelas que os próprios filhos de Deus criaram (muitas vezes em nome Dele). Suas ferramentas são: a palavra muito bem escolhida, a paródia feita com doçura ou sensualidade, e o humor
As palavras são as armas do Bufão. O poder dele está em saber rir , ou melhor, gargalhar de suas próprias mazelas e, com isso, denunciar a feiúra no mundo. E fazer isso de forma tão inteligente e sedutora que a princípio parece até que será engraçado e leve estar em sua presença.
No workshop, estamos experimentando vários tipos de deformidades, colocando enchimentos no corpo e compondo, aos poucos o figurino e características da figura com que vamos trabalhar.
O primeiro exercício: uma fileira de alunos fica de joelhos e coloca uma saia prá parecer um anão, além de cobrir o cabelo com gorro ou lenço, e colocar os braços dobrados dentro da blusa prá parecer que temos só a metade dos braços. Com estas deformidades vamos experimentando um a um, a imitação de: uma atriz famosa, uma pessoa da alta sociedade, o maior idiota que já conhecemos ou transamos, um padre pedófilo, ou, às vezes, cantar uma canção do seu país, ou fazer uma dança do seu país, ou até sorrir como se fossemos anjinhos.
Assim, vão aparecendo características de cada um, no sentido de que gostas de tirar sarro mais de uma coisa do que de outra. Tudo pela busca “eterna” do prazer, da diversão de estar em cena apresentando algo prá platéia.
O bufão gosta de tirar sarro do sorriso otimista de quem acredita na beleza da vida...Aquele sorrisinho feliz de Mac Donald’s. Então ele pode falar as coisas mais terríveis com esse sorriso simpático e angelical. Ser engraçado ou “nice” é uma tática prá continuar em cena e poder dizer o que quer.
Outras deformidades experimentadas foram: grande barriga, grande bunda, corcunda, com um braço ou os dois dobrados.
As improvisações acontecem em grupos, duplas ou individualmente. As propostas dadas são para que imites um rockstar, uma puta, um político, um padre, uma madame.
Philippe vai conduzindo as improvisações modificando as possibilidades ou simplesmente, dando indicações diretas pro ator. Cenas maravilhosas acontecem quase todos os dias.
Estamos trabalhando atualmente com dois textos escritos por Philippe, e os colocamos no meio de alguma improvisação, não ensaiamos o texto com um partner, mas devemos ter o texto decorado prá jogar com ele quando estamos em cena e assim descobrir diversas formas de proferi-lo.
Philippe ressalta a necessidade de encontrar essa outra forma de dizer o texto que não realisticamente, ou de forma normal, ordinária, temos que seguir com o texto no mesmo impulso que chegamos durante a improvisação.
Aos poucos estamos encontrando o tipo de deformação que temos mais prazer de vestir, bem como situações ou pessoas que temos vontade de parodiar. Experimentamos os textos dados por ele em diferentes contextos através das improvisações em aula.
Ao contrário do clown que, na visão de Philippe não deve ter nenhuma mensagem a dizer ao seu público, deve trabalhar exatamente na busca de sua própria idiotice, o bufão tem sempre um recado a dar, usando inteligência e perspicácia para encontrar a melhor maneira de fazer.
Um dia ele perguntou a todos:

O que você quer denunciar?

Bom, entre tantas coisas horríveis que vemos pelo mundo, fica até difícil escolher...
Mas estamos a cada encontro tratando de assuntos diferentes e pesquisando informações, além de iniciar agora uma pesquisa de campo por Paris prá encontrarmos situações e histórias que nos interessam ser contadas. Vamos ao encontro de travestis e prostitutas, imigrantes sem papéis, moradores de rua, internos de hospitais psiquiátricos...Além de já estarmos indo de encontro a nós mesmos e nossas próprias vivências, que trazem a tona muitas pérolas a serem denunciadas.
E que Assim Seja!!! Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, AMÈM!!!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Bonsucesso!!!!




Achei um texto que já escrevi há uns dois anos e resolvi postar prá dividí-lo neste espaço:
Bonproveito, hehehe!!!

Num mundo em que a relação com o sucesso é tão paranóicamente distorcida e já existem até DVDs nas bancas de camelô prometendo desvendar este “SEGREDO” para que todos sejam, finalmente, bem sucedidos. Percebo que a aceitação de que somos passíveis de cometer erros e, de que estes erros são pérolas para o crescimento enquanto ser humano, coloca a nossa relação de aceitação com o fato de sermos imperfeitos e de fracassarmos, como única possibilidade de experimentar, mesmo que por tempo curto, a sensação de liberdade.
A tão idealizada liberdade não é mais que a compreensão de nossa incapacidade de sermos estes seres humanos bem-sucedidos, tão caros a esta e qualquer sociedade que coloque SUCESSO como sinônimo de felicidade.
O clown me proporciona essa liberdade não idealizada de poder ser quem eu sou (ou algo que invento que sou) e poder sempre recorrer ao nariz vermelho (menor máscara do mundo) para lembrar de acreditar que nenhuma realidade é mais real que aquela desenhada por mim no auge da minha potência criadora.

Um dia ouvi num sonho estas palavras: “A gente é o que a gente inventa pra gente”.
Perceber isso me traz uma sensação de liberdade cautelosa, eu faço as escolhas o tempo todo e é a partir delas que vai se delineando meu caminho e minha pessoa vai se inscrevendo nos espaços através da relação com o outro, vou nascendo, vou me corporificando, me mostrando para os outros e para mim mesma, pois consigo me surpreender com essa nova-velha EU.

Com relação aos apontamentos referentes a essa questão corporal, preciso abrir espaço em mim para que as coisas aconteçam, ativar minha percepção, meus sentidos, para responder ou reagir ao que está pulsando dentro e fora de mim; dentro e fora da cena.


Esvaziar para fluir. Esvaziar e confiar que mesmo deixando ir, o que é mais forte (mais presente) volta.
O que me marcou ficará inscrito no meu corpo, passará por mim algumas vezes, comunica por si só, sente, reage, age, age, age.....