Não deixe de conferir ao lado esquerdo da tela no Subtítulo : "Para Saborear" alguns links de vídeos com o mestre Gaulier falando sobre seu método.
Um abraço a todos
Esse é um espaço de circulação das informações, questionamentos e vivências pertencentes ao projeto de pesquisa em artes cênicas realizado na escola do Philippe Gaulier em Paris. De 10/2010 a 05/2011 farei os módulos "Le Jeu", "Clown" e "Bouffon" e em Maio, na volta ao Brasil, dividirei na prática alguns dos ensinamentos por mim absorvidos. Sejam Bem vindos!!!
"Este projeto foi contemplado pela Fundação Nacional de Artes - FUNARTE
no edital Bolsa Funarte de Residências em Artes Cênicas 2010"
no edital Bolsa Funarte de Residências em Artes Cênicas 2010"
sexta-feira, 20 de maio de 2011
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Divulgação oficina e palestra na Universidade Federal de Santa Maria (RS) e na sede do Lume em Campinas (SP)
"Jogo, Prazer e Estratégia:vestígios da residência artística na École Philippe Gaulier" é o nome da oficina gratuita, de 15hs de duração, que realizarei primeiramente na Universidade Federal de Santa Maria de 16 a 20 de Maio, e logo no Ponto de Cultura do Lume em Campinas.
Em Santa Maria as inscrições foram preenchidas com os alunos da Universidade, e a oficina já está acontecendo.
Para a oficina em Campinas, as inscrições estão abertas à comunidade e serão feitas mediante envio de carta de interesse para o email: betacasanova@hotmail.com,
através do qual poderei selecionar os participantes.
Além das oficinas serão realizados dois encontros com artistas e estudantes de arte para contar um pouco da experiência na escola, do percurso de obtenção da bolsa e realização do projeto, além das possibilidades de fomento à pesquisa e produção artística.
Breve Currículo:
Roberta Casa Nova é formada em dança pelo Departamento de Artes Corporais da Unicamp, além de ter formação técnica em teatro pelo Teatro Escola de Porto Alegre (TEPA).
De outubro de 2010 a Abril de 2011, foi contemplada com a Bolsa Funarte de Residência em Artes Cênicas 2010, pela qual cumpriu o projeto de residência artística na École Philippe Gaulier (Paris- França), cursando os módulos “Le Jeu”, “Clown” e “Bufão.
Em Porto Alegre – RS, participou do espetáculo “O Ronco do Bugio” (1998) da Usina do Trabalho do Ator, com direção de Gilberto Icle e do grupo de pesquisa de Teatro Antropológico Babamás, coordenado pelo diretor Roberto Birindelli.
Pesquisa a linguagem do clown há mais de 10 anos, quando mudou-se para São Paulo, onde estudou com mestres como: Cristiane Paoli Quito, Bete Dorgan, Silvia Leblon, Ana Elvira Wuo, Ésio Magalhães (Barracão Teatro), Ricardo Pucceti (Lume) Leo Bassi (Espanha). Com a linguagem do teatro de animação, trabalhou em Companhias como: Truks, Articularte, Morpheus, e, posteriormente, fundou a Numa Cia de Artes filiada a Cooperativa Paulista de Teatro. Com os espetáculos e intervenções criados em parceira com profissionais de diversas linguagens, apresentou em unidades do SESC São Paulo, Festival de Inverno de Amparo, Festival de Artes Circenses de Camboriú, Festival Curitibano de Circo, CCSP – São Paulo, entre outros.
Ministrou oficinas de teatro e confecção de bonecos pelas secretarias de Cultura da Prefeitura e do Estado de São Paulo. Foi orientadora do Projeto Ademar Guerra do Estado de São Paulo nos anos de 2003 e 2004. Desenvolveu bolsa de Iniciação Científica com o projeto: “O Inanimado na dança: um diálogo entre a dança e o teatro de animação”. Foi contemplada com o prêmio FICC 2009 com o projeto “Espantalhando Causos”.
Em Santa Maria as inscrições foram preenchidas com os alunos da Universidade, e a oficina já está acontecendo.
Para a oficina em Campinas, as inscrições estão abertas à comunidade e serão feitas mediante envio de carta de interesse para o email: betacasanova@hotmail.com,
através do qual poderei selecionar os participantes.
Além das oficinas serão realizados dois encontros com artistas e estudantes de arte para contar um pouco da experiência na escola, do percurso de obtenção da bolsa e realização do projeto, além das possibilidades de fomento à pesquisa e produção artística.
Breve Currículo:
Roberta Casa Nova é formada em dança pelo Departamento de Artes Corporais da Unicamp, além de ter formação técnica em teatro pelo Teatro Escola de Porto Alegre (TEPA).
De outubro de 2010 a Abril de 2011, foi contemplada com a Bolsa Funarte de Residência em Artes Cênicas 2010, pela qual cumpriu o projeto de residência artística na École Philippe Gaulier (Paris- França), cursando os módulos “Le Jeu”, “Clown” e “Bufão.
Em Porto Alegre – RS, participou do espetáculo “O Ronco do Bugio” (1998) da Usina do Trabalho do Ator, com direção de Gilberto Icle e do grupo de pesquisa de Teatro Antropológico Babamás, coordenado pelo diretor Roberto Birindelli.
Pesquisa a linguagem do clown há mais de 10 anos, quando mudou-se para São Paulo, onde estudou com mestres como: Cristiane Paoli Quito, Bete Dorgan, Silvia Leblon, Ana Elvira Wuo, Ésio Magalhães (Barracão Teatro), Ricardo Pucceti (Lume) Leo Bassi (Espanha). Com a linguagem do teatro de animação, trabalhou em Companhias como: Truks, Articularte, Morpheus, e, posteriormente, fundou a Numa Cia de Artes filiada a Cooperativa Paulista de Teatro. Com os espetáculos e intervenções criados em parceira com profissionais de diversas linguagens, apresentou em unidades do SESC São Paulo, Festival de Inverno de Amparo, Festival de Artes Circenses de Camboriú, Festival Curitibano de Circo, CCSP – São Paulo, entre outros.
Ministrou oficinas de teatro e confecção de bonecos pelas secretarias de Cultura da Prefeitura e do Estado de São Paulo. Foi orientadora do Projeto Ademar Guerra do Estado de São Paulo nos anos de 2003 e 2004. Desenvolveu bolsa de Iniciação Científica com o projeto: “O Inanimado na dança: um diálogo entre a dança e o teatro de animação”. Foi contemplada com o prêmio FICC 2009 com o projeto “Espantalhando Causos”.
sábado, 12 de março de 2011
Trabalho final
Desde o início de Março estamos com uma jornada de trabalho intensiva na escola. As aulas de movimento agora acontecem das 15hs às 16:30 e temos mais 1 hora e meia prá ensaiar em sala. Estamos preparando cenas em grupo, em duplas, trios ou individuais.
Com textos dados anterirmente por Philippe ou escritos por nós. Muitas vezes nos encontramos às 13:30 no café ao lado da escola "The Chiquitos" para passar textos, discutir sobre algumas cenas, pesquisar músicas, imagens, dados reais para nossas as cenas de nossa autoria.
Posto aqui algumas fotos de exercícios feitos essa semana.
Até a próxima postagem!!!
Com textos dados anterirmente por Philippe ou escritos por nós. Muitas vezes nos encontramos às 13:30 no café ao lado da escola "The Chiquitos" para passar textos, discutir sobre algumas cenas, pesquisar músicas, imagens, dados reais para nossas as cenas de nossa autoria.
Posto aqui algumas fotos de exercícios feitos essa semana.
Até a próxima postagem!!!
domingo, 27 de fevereiro de 2011
A ESTRATÉGIA
Qual a sua estratégia?
Esse é um dos pontos chaves do workshop de bufão.
No mês de fevereiro, além de fazer exercícios com textos escritos por Gaulier, começamos a trabalhar no quinto ato da peça “UBU REI” de Alfred Jarry, com os personagens Mãe Ubu e Pai Ubu. As parcerias foram surgindo de improvisos durante as aulas, e quem encontra boa cumplicidade junto, está ensaiando essa parte da peça prá apresentar em classe e Philippe sempre dá um direcionamento distinto para cada dupla.
Paralelamente aos exercícios com os textos teatrais, os alunos trazem relatos verídicos ou situações inventadas para encontrar um tema, um assunto a ser dito. Alguns falam de prostituição, outros de racismo, hipocrisia, igreja...Enfim, aos poucos cada um vai clareando para si e para o grupo, a quem você quer atacar, o que você quer dizer, mas principalmente, estamos aprendendo: como fazer isso na linguagem do bufão.
E aí entra a questão da estratégia. Por mais que tenhas um bom assunto, e que seja claro quem ou o que você quer atacar, não podes entrar em cena queimando seus cartuchos, o bufão cozinha muito bem o prato antes de comê-lo.
Além disso, ele deve ser cauteloso e se aproximar de forma gentil, ou divertida, ou inocente, para ganhar a confiança do público e quando este está mais aberto e suscetível, será o momento de dizer ao que veio, dizer a verdade aos “Filhos de Deus”. Denunciar!
Muitas vezes, durante as improvisações em aula, escolhemos assuntos que realmente nos tocam e ficamos tão identificados com o que denunciamos que sofremos junto do texto, ou seja, caímos no melodrama, mas o bufão é livre disso, ele tem a capacidade de rir dos acontecimentos e do seu próprio sofrimento, a capacidade de rir de tudo o que sofreu, liberta-o e permite denunciar tais mazelas.
Um destes exercícios de improviso foi o seguinte: Teríamos que começar a cena dizendo – Porque eu não deveria falar coisas más de...E nessas reticências estão inclusos: negros, gays, judeus, deficientes, imigrantes, putas, ou seja, todos os renegados da sociedade. Tirando sarro desse tipo de pessoa que se acha muito correta, mas que pensa que é falta de liberdade e democracia não poder falar pejorativamente sobre algum tipo de minoria.
Deste exercício surgiu a idéia de criar uma cena para falar do racismo e da forma como os negros são vistos até hoje nas sociedades que os escravizaram como no Brasil e nos EUA por exemplo. Eu já estava trabalhando com um segundo figurino (o primeiro era uma puta sem uma parte dos braços e uma bunda enorme) este segundo é uma negra barriguda.
Escrevi a cena, traduzi para o inglês com a ajuda dos colegas e apresentei esta semana. Os alunos podem dizer os textos em sua língua de origem, mas prá mim está sendo importante fazer o exercício de apresentar em inglês ou francês prá que Philippe entenda bem as intenções desenhadas nas falas. Com a figura da negra barriguda, entrava limpando a casa e dançando ao som de”Patuscada” de Gilberto Gil. Encontrava um chapéu de cawboy e um cigarro em cima da mesa (pertences do dono da casa), vestia o chapéu e começava a falar como um cawboy do sul dos EUA, a partir desta sentença:
Porque não falar a “verdade”, ou falar coisas más sobre os negros...
A cena aconteceu, senti a fragilidade da construção da cena, mas o conteúdo, a forma como falava sobre o tema era consistente e foi o que ficou. Philippe fez algumas perguntas depois da cena, para clarear a situação que havia criado, e pediu que mudasse de figurino, tirando as roupas e maquiagem da negra faxineira e vestindo roupas chiques, sapato alto e maquiagem de mulher da alta sociedade.
Ele propôs que sentasse em um sofá, fumando lentamente meu cigarro, falando com um acento de mulher da alta sociedade, culta, bem educada, blazé. O texto seria o mesmo, mas transposto prá realidade brasileira, o que já agrega elementos distintos. Disse as horrendas palavras racistas com muita calma e polidez e depois ele pediu que começasse lentamente a cantar a mesma música do Gil que tinha utilizado para a entrada na cena anterior, e aos poucos começasse a dançar...A dança, o canto, o prazer iam crescendo até me tirar da cadeira e ganhar o espaço. Dançando para o público como quem dança na avenida, regozijando e deixando aparecer a negra dentro de mim. Depois de alcançar um estado de prazer e alegria elevado, parava bruscamente, respirava e olhando bem prá platéia, dizia: Fodam-se os racistas!É difícil descrever uma cena, tentado dar a sensação do que aconteceu, mas escolhi descrever esse episódio para exemplificar a questão da estratégia, pois essa aparição de uma mulher muito educada, polida, bem vestida, utilizando belas palavras em seu discurso, possivelmente é mais surpreendente ao dizer coisas horrivelmente racistas defendendo esse discurso de “Porque eu não posso falar mal dos negros” do que uma negra que já entra dançando e depois ainda imita um cawboy. Além disso, apontar o racismo existente no Brasil é muito mais interessante do que ressaltar o existente nos EUA, como se no Brasil não existisse racismo!!!
Outra surpresa aparece quando essa figura elegante deixa transparecer o prazer de ser negro, com a música, o gingado e a alegria. Aí aparece o bufão que se travestiu e se portou como alguém muito bem colocado na sociedade, servindo de espelho para aqueles que também proferem tais discursos e depois mostra o quanto esse tipo de conduta que parece normal, é racista, marginalizante e desumana. E o quanto temos tudo isso dentro de nós mesmos, por nossa educação, por tudo o que já ouvimos de parentes, amigos, programas de televisão. Repetindo, sem nos darmos conta, comportamentos, idéias, ações que julgam e afastam o outro da possibilidade de compartilhar a vida em sociedade de forma respeitosa.
Igualdade – Fraternidade – Liberdade: O que isto significa?
Tá certo, paro por aqui senão daqui a pouco, mudo o direcionamento do blog prá discursos de ordem socialista, ou marxista, ou iluminista, ou ilusionista (hahaha) ou qualquer outro ista que seja, que muitas vezes também se transformou em radicalismo desrespeitando outras formas de ver e viver o mundo....
E Biba La Democracia!!!!
Esse é um dos pontos chaves do workshop de bufão.
No mês de fevereiro, além de fazer exercícios com textos escritos por Gaulier, começamos a trabalhar no quinto ato da peça “UBU REI” de Alfred Jarry, com os personagens Mãe Ubu e Pai Ubu. As parcerias foram surgindo de improvisos durante as aulas, e quem encontra boa cumplicidade junto, está ensaiando essa parte da peça prá apresentar em classe e Philippe sempre dá um direcionamento distinto para cada dupla.
Paralelamente aos exercícios com os textos teatrais, os alunos trazem relatos verídicos ou situações inventadas para encontrar um tema, um assunto a ser dito. Alguns falam de prostituição, outros de racismo, hipocrisia, igreja...Enfim, aos poucos cada um vai clareando para si e para o grupo, a quem você quer atacar, o que você quer dizer, mas principalmente, estamos aprendendo: como fazer isso na linguagem do bufão.
E aí entra a questão da estratégia. Por mais que tenhas um bom assunto, e que seja claro quem ou o que você quer atacar, não podes entrar em cena queimando seus cartuchos, o bufão cozinha muito bem o prato antes de comê-lo.
Além disso, ele deve ser cauteloso e se aproximar de forma gentil, ou divertida, ou inocente, para ganhar a confiança do público e quando este está mais aberto e suscetível, será o momento de dizer ao que veio, dizer a verdade aos “Filhos de Deus”. Denunciar!
Muitas vezes, durante as improvisações em aula, escolhemos assuntos que realmente nos tocam e ficamos tão identificados com o que denunciamos que sofremos junto do texto, ou seja, caímos no melodrama, mas o bufão é livre disso, ele tem a capacidade de rir dos acontecimentos e do seu próprio sofrimento, a capacidade de rir de tudo o que sofreu, liberta-o e permite denunciar tais mazelas.
Um destes exercícios de improviso foi o seguinte: Teríamos que começar a cena dizendo – Porque eu não deveria falar coisas más de...E nessas reticências estão inclusos: negros, gays, judeus, deficientes, imigrantes, putas, ou seja, todos os renegados da sociedade. Tirando sarro desse tipo de pessoa que se acha muito correta, mas que pensa que é falta de liberdade e democracia não poder falar pejorativamente sobre algum tipo de minoria.
Deste exercício surgiu a idéia de criar uma cena para falar do racismo e da forma como os negros são vistos até hoje nas sociedades que os escravizaram como no Brasil e nos EUA por exemplo. Eu já estava trabalhando com um segundo figurino (o primeiro era uma puta sem uma parte dos braços e uma bunda enorme) este segundo é uma negra barriguda.
Escrevi a cena, traduzi para o inglês com a ajuda dos colegas e apresentei esta semana. Os alunos podem dizer os textos em sua língua de origem, mas prá mim está sendo importante fazer o exercício de apresentar em inglês ou francês prá que Philippe entenda bem as intenções desenhadas nas falas. Com a figura da negra barriguda, entrava limpando a casa e dançando ao som de”Patuscada” de Gilberto Gil. Encontrava um chapéu de cawboy e um cigarro em cima da mesa (pertences do dono da casa), vestia o chapéu e começava a falar como um cawboy do sul dos EUA, a partir desta sentença:
Porque não falar a “verdade”, ou falar coisas más sobre os negros...
A cena aconteceu, senti a fragilidade da construção da cena, mas o conteúdo, a forma como falava sobre o tema era consistente e foi o que ficou. Philippe fez algumas perguntas depois da cena, para clarear a situação que havia criado, e pediu que mudasse de figurino, tirando as roupas e maquiagem da negra faxineira e vestindo roupas chiques, sapato alto e maquiagem de mulher da alta sociedade.
Ele propôs que sentasse em um sofá, fumando lentamente meu cigarro, falando com um acento de mulher da alta sociedade, culta, bem educada, blazé. O texto seria o mesmo, mas transposto prá realidade brasileira, o que já agrega elementos distintos. Disse as horrendas palavras racistas com muita calma e polidez e depois ele pediu que começasse lentamente a cantar a mesma música do Gil que tinha utilizado para a entrada na cena anterior, e aos poucos começasse a dançar...A dança, o canto, o prazer iam crescendo até me tirar da cadeira e ganhar o espaço. Dançando para o público como quem dança na avenida, regozijando e deixando aparecer a negra dentro de mim. Depois de alcançar um estado de prazer e alegria elevado, parava bruscamente, respirava e olhando bem prá platéia, dizia: Fodam-se os racistas!É difícil descrever uma cena, tentado dar a sensação do que aconteceu, mas escolhi descrever esse episódio para exemplificar a questão da estratégia, pois essa aparição de uma mulher muito educada, polida, bem vestida, utilizando belas palavras em seu discurso, possivelmente é mais surpreendente ao dizer coisas horrivelmente racistas defendendo esse discurso de “Porque eu não posso falar mal dos negros” do que uma negra que já entra dançando e depois ainda imita um cawboy. Além disso, apontar o racismo existente no Brasil é muito mais interessante do que ressaltar o existente nos EUA, como se no Brasil não existisse racismo!!!
Outra surpresa aparece quando essa figura elegante deixa transparecer o prazer de ser negro, com a música, o gingado e a alegria. Aí aparece o bufão que se travestiu e se portou como alguém muito bem colocado na sociedade, servindo de espelho para aqueles que também proferem tais discursos e depois mostra o quanto esse tipo de conduta que parece normal, é racista, marginalizante e desumana. E o quanto temos tudo isso dentro de nós mesmos, por nossa educação, por tudo o que já ouvimos de parentes, amigos, programas de televisão. Repetindo, sem nos darmos conta, comportamentos, idéias, ações que julgam e afastam o outro da possibilidade de compartilhar a vida em sociedade de forma respeitosa.
Igualdade – Fraternidade – Liberdade: O que isto significa?
Tá certo, paro por aqui senão daqui a pouco, mudo o direcionamento do blog prá discursos de ordem socialista, ou marxista, ou iluminista, ou ilusionista (hahaha) ou qualquer outro ista que seja, que muitas vezes também se transformou em radicalismo desrespeitando outras formas de ver e viver o mundo....
E Biba La Democracia!!!!
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Les Bouffons
Em 10 de Janeiro de 2011 começamos o ano com o workshop de Bouffon.
Começamos a aula com uma história contada por Philippe - em sua particular maneira de contar histórias misturando dados reais e fictícios sem sabermos o que é um ou outro – mas sempre com muita diversão.
De forma bem resumida, a história do aparecimento da figura do bufão é assim: Na idade Média bandos de excluídos eram relegados a viver em banhados e florestas escondidos da sociedade, na França eram chamados de Parias. E quem se enquadraria na qualidade de paria?
Pessoas que nasciam com algum tipo de deficiência física ou mental, algum tipo de doença ou loucura, ou que não aceitavam as regras impostas pela igreja e eram queimados por cometer heresia, enfim, todos aqueles que nasciam com alguma imperfeição e, portanto, não poderiam ser chamados de filhos de Deus.
Esses filhos do Diabo deviam ser afastados do convívio social para o bem geral, no entanto, uma vez ao ano, eles eram liberados de sair às ruas e zombar do Rei, da igreja e das regras sociais. Hoje em dia podemos incluir nesse grupo, moradores de rua, prostitutas, gays, judeus, africanos, imigrantes em geral, doentes de Aids, enfim, todos aqueles que aparentemente fazem parte da sociedade, mas que na verdade vivem a parte, em seus guetos.
Um bufão, figura maltratada, marginalizada, sempre tem o que dizer aos “filhos de Deus”, no entanto, é perspicaz em criar estratégias prá conseguir colocar o “dedo na ferida” e mostrar as mazelas que os próprios filhos de Deus criaram (muitas vezes em nome Dele). Suas ferramentas são: a palavra muito bem escolhida, a paródia feita com doçura ou sensualidade, e o humor
As palavras são as armas do Bufão. O poder dele está em saber rir , ou melhor, gargalhar de suas próprias mazelas e, com isso, denunciar a feiúra no mundo. E fazer isso de forma tão inteligente e sedutora que a princípio parece até que será engraçado e leve estar em sua presença.
No workshop, estamos experimentando vários tipos de deformidades, colocando enchimentos no corpo e compondo, aos poucos o figurino e características da figura com que vamos trabalhar.
O primeiro exercício: uma fileira de alunos fica de joelhos e coloca uma saia prá parecer um anão, além de cobrir o cabelo com gorro ou lenço, e colocar os braços dobrados dentro da blusa prá parecer que temos só a metade dos braços. Com estas deformidades vamos experimentando um a um, a imitação de: uma atriz famosa, uma pessoa da alta sociedade, o maior idiota que já conhecemos ou transamos, um padre pedófilo, ou, às vezes, cantar uma canção do seu país, ou fazer uma dança do seu país, ou até sorrir como se fossemos anjinhos.
Assim, vão aparecendo características de cada um, no sentido de que gostas de tirar sarro mais de uma coisa do que de outra. Tudo pela busca “eterna” do prazer, da diversão de estar em cena apresentando algo prá platéia.
O bufão gosta de tirar sarro do sorriso otimista de quem acredita na beleza da vida...Aquele sorrisinho feliz de Mac Donald’s. Então ele pode falar as coisas mais terríveis com esse sorriso simpático e angelical. Ser engraçado ou “nice” é uma tática prá continuar em cena e poder dizer o que quer.
Outras deformidades experimentadas foram: grande barriga, grande bunda, corcunda, com um braço ou os dois dobrados.As improvisações acontecem em grupos, duplas ou individualmente. As propostas dadas são para que imites um rockstar, uma puta, um político, um padre, uma madame.
Philippe vai conduzindo as improvisações modificando as possibilidades ou simplesmente, dando indicações diretas pro ator. Cenas maravilhosas acontecem quase todos os dias.
Estamos trabalhando atualmente com dois textos escritos por Philippe, e os colocamos no meio de alguma improvisação, não ensaiamos o texto com um partner, mas devemos ter o texto decorado prá jogar com ele quando estamos em cena e assim descobrir diversas formas de proferi-lo.
Philippe ressalta a necessidade de encontrar essa outra forma de dizer o texto que não realisticamente, ou de forma normal, ordinária, temos que seguir com o texto no mesmo impulso que chegamos durante a improvisação.
Aos poucos estamos encontrando o tipo de deformação que temos mais prazer de vestir, bem como situações ou pessoas que temos vontade de parodiar. Experimentamos os textos dados por ele em diferentes contextos através das improvisações em aula.
Ao contrário do clown que, na visão de Philippe não deve ter nenhuma mensagem a dizer ao seu público, deve trabalhar exatamente na busca de sua própria idiotice, o bufão tem sempre um recado a dar, usando inteligência e perspicácia para encontrar a melhor maneira de fazer.
Um dia ele perguntou a todos:
O que você quer denunciar?
Bom, entre tantas coisas horríveis que vemos pelo mundo, fica até difícil escolher...
Mas estamos a cada encontro tratando de assuntos diferentes e pesquisando informações, além de iniciar agora uma pesquisa de campo por Paris prá encontrarmos situações e histórias que nos interessam ser contadas. Vamos ao encontro de travestis e prostitutas, imigrantes sem papéis, moradores de rua, internos de hospitais psiquiátricos...Além de já estarmos indo de encontro a nós mesmos e nossas próprias vivências, que trazem a tona muitas pérolas a serem denunciadas.
E que Assim Seja!!! Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, AMÈM!!!
Começamos a aula com uma história contada por Philippe - em sua particular maneira de contar histórias misturando dados reais e fictícios sem sabermos o que é um ou outro – mas sempre com muita diversão.
De forma bem resumida, a história do aparecimento da figura do bufão é assim: Na idade Média bandos de excluídos eram relegados a viver em banhados e florestas escondidos da sociedade, na França eram chamados de Parias. E quem se enquadraria na qualidade de paria?
Pessoas que nasciam com algum tipo de deficiência física ou mental, algum tipo de doença ou loucura, ou que não aceitavam as regras impostas pela igreja e eram queimados por cometer heresia, enfim, todos aqueles que nasciam com alguma imperfeição e, portanto, não poderiam ser chamados de filhos de Deus.
Esses filhos do Diabo deviam ser afastados do convívio social para o bem geral, no entanto, uma vez ao ano, eles eram liberados de sair às ruas e zombar do Rei, da igreja e das regras sociais. Hoje em dia podemos incluir nesse grupo, moradores de rua, prostitutas, gays, judeus, africanos, imigrantes em geral, doentes de Aids, enfim, todos aqueles que aparentemente fazem parte da sociedade, mas que na verdade vivem a parte, em seus guetos.
Um bufão, figura maltratada, marginalizada, sempre tem o que dizer aos “filhos de Deus”, no entanto, é perspicaz em criar estratégias prá conseguir colocar o “dedo na ferida” e mostrar as mazelas que os próprios filhos de Deus criaram (muitas vezes em nome Dele). Suas ferramentas são: a palavra muito bem escolhida, a paródia feita com doçura ou sensualidade, e o humor
As palavras são as armas do Bufão. O poder dele está em saber rir , ou melhor, gargalhar de suas próprias mazelas e, com isso, denunciar a feiúra no mundo. E fazer isso de forma tão inteligente e sedutora que a princípio parece até que será engraçado e leve estar em sua presença.
No workshop, estamos experimentando vários tipos de deformidades, colocando enchimentos no corpo e compondo, aos poucos o figurino e características da figura com que vamos trabalhar.
O primeiro exercício: uma fileira de alunos fica de joelhos e coloca uma saia prá parecer um anão, além de cobrir o cabelo com gorro ou lenço, e colocar os braços dobrados dentro da blusa prá parecer que temos só a metade dos braços. Com estas deformidades vamos experimentando um a um, a imitação de: uma atriz famosa, uma pessoa da alta sociedade, o maior idiota que já conhecemos ou transamos, um padre pedófilo, ou, às vezes, cantar uma canção do seu país, ou fazer uma dança do seu país, ou até sorrir como se fossemos anjinhos.
Assim, vão aparecendo características de cada um, no sentido de que gostas de tirar sarro mais de uma coisa do que de outra. Tudo pela busca “eterna” do prazer, da diversão de estar em cena apresentando algo prá platéia.
O bufão gosta de tirar sarro do sorriso otimista de quem acredita na beleza da vida...Aquele sorrisinho feliz de Mac Donald’s. Então ele pode falar as coisas mais terríveis com esse sorriso simpático e angelical. Ser engraçado ou “nice” é uma tática prá continuar em cena e poder dizer o que quer.
Outras deformidades experimentadas foram: grande barriga, grande bunda, corcunda, com um braço ou os dois dobrados.As improvisações acontecem em grupos, duplas ou individualmente. As propostas dadas são para que imites um rockstar, uma puta, um político, um padre, uma madame.
Philippe vai conduzindo as improvisações modificando as possibilidades ou simplesmente, dando indicações diretas pro ator. Cenas maravilhosas acontecem quase todos os dias.
Estamos trabalhando atualmente com dois textos escritos por Philippe, e os colocamos no meio de alguma improvisação, não ensaiamos o texto com um partner, mas devemos ter o texto decorado prá jogar com ele quando estamos em cena e assim descobrir diversas formas de proferi-lo.
Philippe ressalta a necessidade de encontrar essa outra forma de dizer o texto que não realisticamente, ou de forma normal, ordinária, temos que seguir com o texto no mesmo impulso que chegamos durante a improvisação.
Aos poucos estamos encontrando o tipo de deformação que temos mais prazer de vestir, bem como situações ou pessoas que temos vontade de parodiar. Experimentamos os textos dados por ele em diferentes contextos através das improvisações em aula.
Ao contrário do clown que, na visão de Philippe não deve ter nenhuma mensagem a dizer ao seu público, deve trabalhar exatamente na busca de sua própria idiotice, o bufão tem sempre um recado a dar, usando inteligência e perspicácia para encontrar a melhor maneira de fazer.
Um dia ele perguntou a todos:
O que você quer denunciar?
Bom, entre tantas coisas horríveis que vemos pelo mundo, fica até difícil escolher...
Mas estamos a cada encontro tratando de assuntos diferentes e pesquisando informações, além de iniciar agora uma pesquisa de campo por Paris prá encontrarmos situações e histórias que nos interessam ser contadas. Vamos ao encontro de travestis e prostitutas, imigrantes sem papéis, moradores de rua, internos de hospitais psiquiátricos...Além de já estarmos indo de encontro a nós mesmos e nossas próprias vivências, que trazem a tona muitas pérolas a serem denunciadas.
E que Assim Seja!!! Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, AMÈM!!!
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Bonsucesso!!!!
Achei um texto que já escrevi há uns dois anos e resolvi postar prá dividí-lo neste espaço:
Bonproveito, hehehe!!!
Num mundo em que a relação com o sucesso é tão paranóicamente distorcida e já existem até DVDs nas bancas de camelô prometendo desvendar este “SEGREDO” para que todos sejam, finalmente, bem sucedidos. Percebo que a aceitação de que somos passíveis de cometer erros e, de que estes erros são pérolas para o crescimento enquanto ser humano, coloca a nossa relação de aceitação com o fato de sermos imperfeitos e de fracassarmos, como única possibilidade de experimentar, mesmo que por tempo curto, a sensação de liberdade.
A tão idealizada liberdade não é mais que a compreensão de nossa incapacidade de sermos estes seres humanos bem-sucedidos, tão caros a esta e qualquer sociedade que coloque SUCESSO como sinônimo de felicidade.
O clown me proporciona essa liberdade não idealizada de poder ser quem eu sou (ou algo que invento que sou) e poder sempre recorrer ao nariz vermelho (menor máscara do mundo) para lembrar de acreditar que nenhuma realidade é mais real que aquela desenhada por mim no auge da minha potência criadora.
Um dia ouvi num sonho estas palavras: “A gente é o que a gente inventa pra gente”.
Perceber isso me traz uma sensação de liberdade cautelosa, eu faço as escolhas o tempo todo e é a partir delas que vai se delineando meu caminho e minha pessoa vai se inscrevendo nos espaços através da relação com o outro, vou nascendo, vou me corporificando, me mostrando para os outros e para mim mesma, pois consigo me surpreender com essa nova-velha EU.
Com relação aos apontamentos referentes a essa questão corporal, preciso abrir espaço em mim para que as coisas aconteçam, ativar minha percepção, meus sentidos, para responder ou reagir ao que está pulsando dentro e fora de mim; dentro e fora da cena.
Esvaziar para fluir. Esvaziar e confiar que mesmo deixando ir, o que é mais forte (mais presente) volta.
O que me marcou ficará inscrito no meu corpo, passará por mim algumas vezes, comunica por si só, sente, reage, age, age, age.....
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